segunda-feira, 2 de novembro de 2015

E se o filho fosse meu?



Na última quinta feira "pipocaram" na minha timeline do Facebook, várias replicações de um vídeo que mostrava um menino de 7 anos quebrando a secretaria de uma escola. Enquanto o garoto arremessava livros, cadeiras, pastas e até mesmo um banco, os educadores ao redor "evitavam" qualquer contato com o menino, temendo que sua conduta fosse questionada posteriormente.



A DIVISÃO DE OPINIÕES

 

O vídeo dividiu a opinião dos internautas quando foi utilizado para propor que a culpa pelo ocorrido era da mãe e que isso se devia ao fato de ela não "criar" seu filho como deveria por falta de "cintadas", "palmadas" e etc.

De um lado se manifestaram pessoas à favor do que foi proposto, e de outro, pessoas que defendem ser possível uma criação sem violência onde o diálogo "impede" que esse tipo de situação aconteça. Esses dois grupos ainda são subdivididos em educadores e não educadores e entre aqueles que tem e não tem filhos.


SOBRE A ATITUDE DOS DOCENTES

 

Quem ler isso vai dizer que é um clichê, mas, durante o incidente os docentes, se mostraram despreparados para esse tipo de situação.
Quem viu o vídeo, pôde constatar que a pessoa que faz a filmagem provoca o garoto e o incentiva a agir exatamente da mesma forma que vinha agindo, como se mostrar a situação que causava revolta nos docentes, fosse mais importante do que fazer seu trabalho (zelar pela segurança da criança).

- "Mas não adianta, olha aí, a gente não pode bater nele, a gente não pode segurar ele"
- "Não segura, não segura, não segura"
- "Eu quero saber se chama a orientação educacional, um assistente social, uma polícia, o quê que a gente faz com uma criança dessa?"
- "Isso! Tomba!" (Sobre a prateleira de livros)
"- Vou chamar o bombeiro? "- Chama a polícia" (diz outra pessoa)

Em nenhum momento do vídeo, pôde-se ver a criança sendo convidada para conversar, sendo questionada sobre como se sentia, sobre o porquê de se sentir assim. Ao invés disso, o que se ouve, é um adulto incitando a ira em uma criança de sete anos, para que esta quebre mais coisas e com isso "mostrar que se sente à mercê desse tipo de comportamento e nada pode fazer".


Podiam ter segurado o garoto SIM, com o argumento do DEVER de preservar a segurança da criança.
Note que em um determinado momento do vídeo, cai ao chão algo que faz o som de um copo de vidro, que poderia ter quebrado e cortado a criança.Em outro momento o garoto tenta tombar uma prateleira que poderia cair para qualquer lado, inclusive o do garoto. Ao invés disso, o aluno é incentivado a continuar e o homem que tenta por duas vezes segurar a criança é impedido de fazê-lo. Ironicamente, o único que estava preocupado em impedir que o garoto se machucasse, não era um educador, mas sim o porteiro da escola.

Filmar o incidente é importantíssimo, mas apenas com a finalidade de se preservar. Nesse tipo de situação, não é incomum uma criança dizer que foi agredida ou humilhada (ao meu ver ele foi, mas volto nesse ponto mais tarde).Filmar, sem expor a criança, utilizando o material apenas para mostrar aos pais, diretoria de ensino e etc é extremamente útil, por outro lado, colocar o vídeo na internet com o rosto da criança sendo exposto, é violar a lei (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA).

OS JULGAMENTOS

 

Uma parte dos internautas atribuíram a culpa do incidente À MÃE da criança sem nem ao menos saber:

Se o menino tinha mesmo mãe.
Se o menino tinha pai.
Se o menino tinha um teto pra morar.
Se o menino tem o que comer em casa.

Se o menino tem algum tipo de transtorno mental.
Se o menino é assim "porque sim".
Se a mãe precisa de algum tipo de ajuda pra educar o filho.
Se a mãe trabalha em dois empregos e ainda faz "extras" pra levantar mais dinheiro

SE NOS COUBESSE JULGAR A MÃE DO MENINO (e não nos cabe fazer isso):

O que sabemos a respeito dela exceto que o garoto teve um momento de fúria e que uma docente incentivou isso a acontecer provocando o menino?

Recomendo aos leitores, que assistam o vídeo abaixo:

Fonte: Facebook

ENTÃO É CULPA DE QUEM?

 

Atribuir a culpa de quê? De ter um acesso de raiva? De sair de si?

Na verdade a minha maior pergunta aqui é: Porque temos essa necessidade de atribuir a culpa a alguém?
A respeito da indignação dos docentes, sim, temos um culpado e somos nós mesmos.

- Nós que esperamos em plenos século XXI, que um modelo de ensino prussiano seja capaz de satisfazer a todas as necessidades da nova geração de estudantes.
- Nós que tratamos a escola como uma espécie de "depósito de crianças" que nos permite ir para o trabalho durante a semana, sem nunca atuar como parte da comunidade escolar, nem sequer comparecer à reuniões de pais e mestres.
- Nós que atribuímos à escola 100% da responsabilidade da educação moral e civil aos alunos.
- Nós que nos preocupamos mais com avenidas fechadas aos domingos do que com o fechamento de 94 escolas no estado de São Paulo
- Nós que nos preocupamos tanto com as escolas, que ficamos sentados enquanto professores apanham por pedir melhores condições de trabalho, remuneração e previdência  (referência aqui, aqui, aqui e aqui)

E SE FOSSE MEU FILHO

 

SE eu já não soubesse seus motivos (afinal, sendo pai, eu provavelmente já estaria ciente das razões), certamente procuraria ajuda profissional para lidar com a situação já que não se pôde contar com os EDUCADORES que ali estavam presentes. Procuraria de psicopedagogos à psicólogos, psiquiatras à neurologistas ou estudaria eu mesmo sobre o assunto, mas em hipótese alguma eu daria as tais "cintadas educacionais" que estão sendo propostas. Se quiser saber o porque, leia esse texto que contém boas informações sobre o tema.

Sobre entrar com um processo:
Eu entraria, (e entrarei) com um processo contra qualquer um que publicar qualquer vídeo que exponha a identidade da minha filha por qualquer razão sem a minha autorização, enquanto ela não completar 18 anos. Isso já resume bem o que eu faria no caso da escola, mas...

Se fosse meu filho eu certamente daria entrada em um processo contra a Secretaria da Educação responsável pela escola, pautado no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente):


(Lei No. 8.069 - 13 de julho de 1990)

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. 

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Parágrafo único.  Para os fins desta Lei, considera-se:      
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em:      
a) sofrimento físico; ou      
b) lesão;       
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que:      
a) humilhe; ou       
b) ameace gravemente; ou        
c) ridicularize. 

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;


ALGUMAS OUTRAS CONSIDERAÇÕES 

 

- Percebi um sensacionalismo descarado por parte de alguns jornais que utilizaram esse assunto apenas para conseguir visualizações em sua página sem se aprofundar nem um pouco no assunto, estou mencionando isto, apenas para que fique registrado o meu repúdio a este tipo de publicação.

 - Durante as discussões, salvo em raríssimas ocasiões, foram citados os termos "pais"ou "responsáveis" e eu, pessoalmente, não encontrei menções à palavra "pai".

 - Quem não tem filho, deve sim opinar, mas gostaria que levassem em consideração que, antes de ser pai, meu pensamento seria o mesmo da maioria. Somente quando temos um filho (e olhe lá) é que realmente pensamos sobre o ato de educar.
Passamos a observar que a criança, assim como nós precisa de carinho e atenção,SIM, atenção. Aquela conversa de "não dá atenção, é isso que ele quer", hoje em dia, no meu modo de ver é um erro grotesco. Como você se sentiria se no momento em que você mais precisa de alguém, todos te virassem as costas? E quando a criança quer algo, mas não é possível naquele momento? Podemos até pensar: "ah mas ele só quer brincar lá fora", mas pra criança, naquele momento, brincar lá fora é a coisa mais importante que existe no universo, então ao menos explique os motivos para não poder ir brincar lá fora.

- SIM, o RESPONSÁVEL tem que pagar pelo que foi danificado, isso com certeza, mas graças à filmagem ilegal, isso provavelmente será pago com o dinheiro do processo que a família irá ganhar sobre a Secretaria da Educação responsável.

- Um texto muito melhor que o meu bacana sobre o tema, você pode conferir no site da Cientista que Virou Mãe, site que recomendo para qualquer pai ou mãe que queira se informar e aprender ótimas formas de lidar com a educação de seus filhos.

- Eu particularmente, gostei da matéria realizada pelo fantástico (isso é raro) sobre o tema, nela dá pra ver pontos importantes como o porteiro preocupado com a segurança do garoto e o momento em que fica claro que se alguém segurasse a criança, o incidente cessaria imediatamente:




 Obrigado pela atenção e um abração.

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